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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Carta de um amigo de infância:Fauzi T.Jorge

Olá, Sueli.
A vida nos prega peças...O que é a vida, afinal? Um amontoado de lembranças? Vivências interrompidas por sentimentos que nem sempre são aqueles que de fato pesam sobre nós?A vida é o que somos, verdadeiramente, ou o que pensamos ser? É fruto de uma criação ou de uma ilusão?É resultado da tecnologia (o computador que se torna “amigo”, porque, ao utilizarmos tal ferramenta, nos “comunicamos” com uma outra pessoa, esperando que haja, de fato, “comum/icação”? Tornamos comum o nosso sentimento? Trocamos impressões sobre o que sentimos, de fato? O outro reage aos nossos impulsos, no mesmo momento em que precisamos de uma resposta aos nossos apelos? Que nada!! É tudo um “diálogo de surdos”, na minha forma de ver.Porque, para mim, nada substitui a sensação de um “olho no olho”...Nada substitui o eco de nossas palavras, sentidas, ponderadas, trabalhadas...Nada substitui o toque de uma mão amiga...Não se iluda, minha cara Amiga-De-Andar-Apressado, como eu me lembro de você: gente ainda é o melhor remédio. Gente pra se ver, pra se tocar, pra se falar no pé do ouvido. Gente pra se emocionar com a gente. Não importa o grau desta emoção e nem tampouco o motivo. Simplesmente, gente pra se emocionar. Numa boa jogada de um carteado amigo. Numa boa resposta pra nos fazer pensar. Numa boa pergunta idem.Viver não é fácil, não. Quando se pensa que se está triste... falta um pontapé no traseiro pra gente sentir que se está vivo. Pra olhar um pouco mais pra frente e ver que existem pessoas abanando seus braços pra gente, dizendo: -Oi! Olha eu aqui! Vem me dar um abraço! Vem participar de minha alegria!Você já olhou um pouco mais longe, hoje? Pensou naqueles que, direta ou indiretamente, se sentem um pouco responsável por você? Se não o fez, faça-o qualquer dia destes. Não precisa ser agora, não. Porque agora, quando você terminar de ler este e-mail, será hora de relê-lo. Uma, duas, três vezes... Até que você possa sentir-se amparada por suas lembranças de menina. São elas que nos fazem perceber o que somos, verdadeiramente. E o juiz de nossos atos é, no fundo, a intensidade destas lembranças: se o passado nos condena, o presente nos atiça. E o futuro? Uma grande, uma imensa mentira. Uma profunda ilusão. Um sonho...Os atores desta mentira, os autores da ilusão, os sonhadores, somos nós mesmos. Com maior ou menor intensidade. Que leva, sim, a uma maior (ou menor) felicidade.
Quando quiser, Sueli, vem pra cá, beber uma taça de vinho conosco. E espantar estes fantasmas que tanto nos atormentam. Pegue o primeiro ônibus, ligue pra me dizer qual é o horário de sua chegada [xxxxxxxxx]. Vou te falar do Binho, cujo filho Fábio, de mais de 30 anos de idade, está paraplégico e sendo cuidado, noite e dia, por ele, que já não tem a sua cara metade, que o deixou há tanto tempo, prematuramente. Vou te falar do Sérgio Tamaoki, cuja filha está enfrentando valorosamente um tumor no seio, na sua mais tenra idade. E ele mesmo, Sérgio, que está se curando de um câncer na próstata, com reflexos numa (insistente) retite. No meu particular caso, vou de falar de um filho que já não está mais a meu lado, há mais de 17 anos, por vontade própria, e que tanta lembrança amiga nos traz e cuja falta procuramos não mais sentir, porque precisamos sobreviver, afinal.Vou te falar de gente que tem medo do amanhã, sim. E que, no final de um dia de reflexões, se compenetram de sua pequenez e dizem pra seu tutor maior: “Pai nosso (...) perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal”. E que ele nos ajude a superar o nosso grande temor: a convivência conosco mesmos. Porque não há mais malévolo juiz do que este que habita dentro de nós. Sufocá-lo é preciso. E isto é tarefa pra mais de um, o sabemos.Mas, também vou te falar de três netinhos, um menino (Matheus) e duas meninas (Marcela e Paula), filhos de Camila, nossa filha. E da alegria que brota a cada minuto desta convivência com eles. Só vivenciando pra sentir... É daí que deduzimos a importância da provação. E da sua superação. Viva, pois, pra isso.Um carinhoso abraço...Fauzi

(Recebi do meu amigo Fauzi,após uma crise de pânico que tive ontem,dia04/01/09.Sueli Garcia Rossetto)